sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Grito silencioso

    De repente afogada em lágrimas ela se via sem rumo, perdida no próprio mundo, aquele que costumava ser o seu porto-seguro, mas havia se tornado o pior pesado e lhe causava medo. O escuro que sempre a amedrontou nunca pareceu tão agradável. Sentada no canto do quarto, perfeitamente nos 90°, uma lágrima escorria e a angústia dentro de seu peito parecia triplicar, mas aquele canto estava confortável, fazia com que ela se sentisse segura. Em suas mãos uma caneta preta, uma folha de papel em branco e o celular para iluminar toda a escuridão, e o mesmo, por um segundo, pareceu só servir para isso, pois a possibilidade de ligar para alguém parecia fora de cogitação, já que apenas a ideia a deixava atordoada, mas, ao mesmo tempo, ela manteve a esperança viva de alguém ir socorre-la, sem que precisasse pedir.
    Olhando a parede em sua frente, ela respirou fundo e projetou na mesma cenas dos momentos bons já vividos, como os momentos passados com os amigos, as risadas até perder o fôlego, as viagens e, até mesmo, seus relacionamentos, o que fez com que mais uma lágrima escorresse, dessa vez em seu peito vinha a dor de nunca mais viver momentos como aqueles e isso a assustava demais.
    A vontade que tinha era de sumir, dar um tempo de tudo, talvez pegar um carro e ir na direção contrária daquela que era de costume, mas ir sem destino, esperando chegar a algum lugar onde pudesse ficar em paz, onde sua maior companhia seria o vento, que ela já imaginava, beijando sua pele e soprando seus cabelos. Ela caiu em si e ainda se encontrava naqueles mesmos 90° do quarto que continuava escuro, esperando um sinal de alguém que tivesse ouvido o seu grito, secreto, de socorro.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Brisa do luar

Diante daquele para-peito, embriagando-me do ar noturno, percebi o quão cansada estava, cansada de me deixar ser arrastada por aquilo que é adorável, belo e encantador. Com a cabeça que parecia ir até a Lua e dar uma passada em Vênus, me deixei levar pela suavidade e delicadeza, como já era de costume. Quando de volta a realidade tive vontade de sumir, ir embora e deixar todas as minhas vontades de lado, ignorar todos os meus impulsos. Comecei a me encher de promessas, as quais sabia que não iria cumprir, mas apenas pelo conforto que elas me davam juntamente com a sensação de estar tendo um certo controle e tomando alguma decisão certeira, pois era o que me satisfazia, já que no momento tudo parecia sem rumo. Até chegar as promessas mais absurdas que fizeram com que eu caísse em mim e percebesse que eu estava fazendo promessas tão vazias quanto as já escutadas, que eu estava apenas me enganando, porque tudo não passava de uma desculpa para ocupar a mente com coisas diferentes das costumeiras, para não remoer coisas passadas, para não me lembrar de como tem sido complicado os últimos dias, para não me arrepender por ter respondido aos meus impulsos mais carnais. Uma desculpa para não pensar sobre os sentimentos que me consomem, sobre como poderia ter sido diferente ou como seria daqui pra frente. Tudo não passava de uma desculpa para parar com a tentativa de me entender, uma tentativa frustrada de fugir da realidade.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

VII MB

      No mês seguinte ela ainda estava fúnebre, sua vida parecia estar em um buraco negro e ela se afogava na própria alma com seus gritos abafados pelo travesseiro. O cansaço tomava conta e sempre a mesma pergunta vinha em mente, a de até quando iria aguentar. A dor que já havia se instalado em seu peito fazia com que tivesse vontade de interromper todo aquele movimento costumeiro. 
     Quando as coisas passadas vinham na sua cabeça, ficava se remoendo. Ela sentia algo indescritível e quando menos esperava estava no fundo daquele buraco negro e era tomada por um desespero absurdo. Em sua memória aquele que amava estava sempre de uma maneira idealizada e mesmo separada dele, ele parecia presente. Ela havia adquirido a mania de ficar reinventando os diálogos que já haviam acontecido, só para ter a segunda chance que tanto desejava e ver se as coisas iriam ser diferentes se ela tivesse usado outras palavras. 
     Dentro daquele buraco, ela relembrava os momentos, mas esses não reinventava, lembrava dos mais belos, aqueles que quando lembrados um sorriso bobo surgia em seus lábios, e isso fazia com que ela não se entregasse ao pânico que quase lhe tomava conta. Se lembrava do rosto calmo e sonolento deitado em seu colo no fim de tarde que haviam se encontrado com ele, na pracinha daquela cidadezinha, dos cigarros e das bebidas compartilhados, dos sorrisos e carícias trocadas. Quantas noites boas não haviam passado no sofá, naquela sala? As risadas, as cócegas, os cafunés e os beijos que diziam ''boa noite'' por si só. Lembrava até do sono, que a irritava, pois não permitia que aproveitassem mais o tempo juntos. Pensar em tudo isso fez com que ela quisesse sair dali, escalar aquele buraco até finalmente se livrar daquele lugar escuro que a amedrontava. Quis ir encontrá-lo. Correr até chegar em seus braços para um último abraço, mas o medo não permitia, assim como os arrependimentos, o que fazia com que seus desejos ficassem cada vez mais ativos, porém eram reprimidos.